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Arinda da Cruz Sobral, a primeira arquiteta brasileira

Ao longo de décadas, a história da arquitetura brasileira destacou predominantemente figuras masculinas como seus principais representantes. No entanto, nos últimos anos, tem havido um crescente interesse em identificar e reconhecer o papel das mulheres nesse campo. A pergunta “Onde estão as mulheres na história da arquitetura no Brasil?” tem sido frequente entre os profissionais de história da arquitetura e urbanismo. Embora referências fundamentais, como Lina Bo Bardi e Carmen Portinho, sejam mencionadas, há uma busca por identificar outras mulheres que também contribuíram para essa área.

Diante dessa questão, uma investigação começou para resgatar o nome de outras mulheres historicamente invisibilizadas. O ponto de partida foi a Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, que, até a década de 1930, era a única instituição a oferecer o curso de arquitetura no Brasil. Foi descoberto o registro de Arinda da Cruz Sobral, uma estudante de arquitetura que ingressou no curso em 1907 e se formou em 1914. Nessa época, o curso de arquitetura ainda não estava integrado ao urbanismo, o que só aconteceria entre 1968 e 1969.
Arinda da Cruz Sobral já era formada pela Escola Normal antes de ingressar no curso de arquitetura. Ela também fazia parte do corpo de professores da Prefeitura do Distrito Federal e continuou sua carreira como docente no ensino público, chegando a ser diretora escolar. Sabe-se que ela nasceu em 1883 e pertencia a uma família de classe média urbana, com muitos membros que eram funcionários públicos na capital federal.

Ao longo de sua vida acadêmica, Arinda foi elogiada pela imprensa da época e reconhecida como a primeira mulher a se formar no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes em 1911. Ela obteve aprovação plena ou com distinção em todas as disciplinas do curso, o que demonstra seu excelente desempenho acadêmico. Além disso, ela participou de exposições e concursos, recebendo prêmios e reconhecimentos por seu trabalho.

Apesar das dificuldades financeiras e da mudança na estrutura pedagógica da instituição no início do século, a Escola Nacional de Belas Artes procurou legitimar sua modernidade e progresso ao destacar a formatura de Arinda como a primeira arquiteta do Brasil, seguindo exemplos de outros países considerados avançados na época.

Além de sua atuação como professora, Arinda deixou um legado construído na forma da Capela São Silvestre, localizada na região do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. A construção ocorreu antes da famosa estátua do Cristo Redentor e contou com a presença do presidente da República da época. A capela ainda existe hoje, mas sua autoria como obra de Arinda não é amplamente reconhecida.
O resgate da história de Arinda da Cruz Sobral e outras arquitetas pioneiras contribui para a legitimação da presença das mulheres na arquitetura e questiona as narrativas históricas tradicionais. Essas mulheres foram responsáveis por construir suas carreiras, compartilhar conhecimentos sobre arquitetura e urbanismo, participar de projetos, congressos e publicações, ocupando cargos importantes e contribuindo para a estruturação do campo da arquitetura. Trazer à tona essas trajetórias é não apenas uma questão de reconhecer a contribuição das mulheres, mas também de promover uma abordagem mais equânime e inclusiva na história da arquitetura brasileira.